quarta-feira, 8 de julho de 2009

Maria Eleonor

“É como enxergar música na chuva. Ela vem descendo a ladeira.”

Usa faixas azuis no cabelo preto e longo. Um vestido vermelho com bordados dourados, como um manto dos sonhos. Anáguas. Sempre vestida de pedraria. Quer brilhantina no cabelo. Mora num jardim. Tem um pé de alecrim e uma roseira de estimação. Laranjeira e manjericão. Fazia sorrisos. Adorava histórias da carochinha. Gostava de olhar sua mãe cozendo. De samba e do som de uma rabeca. Era das faceiras.

Barcos de pescaria. Janela. Saudade.

Letras garranchadas em papel de pão. Um corpo que trás em si marcas de um tempo de saudade que ainda não passou. Olhos de silêncio, conseqüência de uma voz que não para de ecoar no seu lado de dentro. Mãos que falam através de um lápis de madeira com a ponta feita a faca. Sentado no muro de sua casa, não denuncia o quanto suas palavras devotam aquela mulher. A não ser seus olhos. “Êta zoinhos traidor”. E é esse o segredo de toda essa história: o jeito como ele olhava pra ela.

Larissa Fontes

"E ao perguntar como era o nome dela, pois lhe disse 'eu sou Maria Eleonor'";
Ao som de Renata Rosa, uma pernambucana rabequeira, descoberta maravilhosa!