quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Com calma


Quando você some, meio que se apaga em mim, começo a pensar que estou me apagando em você também e olho pro chão desanimada. Mas aí depois você reaparece, chega com essas palavras que me dão essa paz e eu não sei se pensou em mim esse tempo, mas ao te ouvir eu me calo. Que que é isso que tem dentro de você, hein? Eu vejo no teu olhar. Sempre vi, apesar de todos os momentos ruins. E verei sempre. Como sei que pode ver no meu, todos os dias, mesmo que eu tente esconder e mesmo que meu rosto tente falar outra coisa. É só me ver. No olho.

No olho.

Com calma...

Larissa Fontes

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Urgente: tentem explicar o amor!


Não deveríamos tentar conceituar o amor. Muitos poetas conseguem falar com facilidade dele, mas eu mesma, não ouso tanto. Embora ache que seja válido, resulta nas mais belas palavras. Tentar explicá-lo. Porque ao tentar, buscamos ele próprio, puxamos ele do mais fundo de nós para transpor em palavras. Termina sendo amor. Não conseguimos sequer entende-lo, mas ele é tão forte que mesmo sem ser compreendido, toma conta de todo o ser.
Escrevemos com amor. Criamos personagens que vamos buscar do nosso âmago mesmo, que muitas vezes é fruto de uma lembrança, ou sequer um desejo gritante, que faz transbordar em forma de pessoas imaginárias. Damos amor a eles. O nosso amor, do nosso jeito. E qualquer pessoa pode fazer isso. É tão simples.
Então, por favor. Continuem tentando. Por favor, tentem explicar o amor!!

Larissa Fontes

domingo, 26 de outubro de 2008

Desabafo


Eu sempre achei a minha vida parada. Via as novelas na televisão e fiquei muitas vezes me imaginando naqueles casos. Mas só ficava imaginando mesmo, nada de desejar realmente, por não acreditar mesmo. Acho que com o tempo, fui perdendo a esperança. Triste isso não é? Mas acontece na vida, isso não é novela não.
Vinha pra cá, costumava vir sempre na mesma hora, lá pelas dez horas da noite. Deitava em cima desse carro e ficava olhando o céu. Me acalmava, sabe? Nem ligava que era perigoso, esquisito. Nunca acontecia nada. Quando dava essa hora, me batia uma solidãozinha, um aperto aqui dentro e eu saía. Nesse tempinho que eu passava sozinha, era bom. Eu ficava pensando, pensando. Eu sorria, até! Imaginava mil situações, sonhava acordada. Era o único momento de amor que eu tinha nos meus dias vazios. Pelo menos do que eu imaginava que fosse amor.
Até que você apareceu. Era um dia normal, no qual em seu decorrer, eu só ansiava realmente pelo meu momentinho. Chegou a hora, e eu fui caminhar. O céu estava bonito, a noite estava bem escura e as estrelas cintilavam, dava pra sentir o brilho. Como sempre, ninguém na rua, só o vigia do banco central, sentado em sua cadeira, com o pescoço torto, já dormindo. O silêncio era tanto, que só ouvia meus próprios passos, pisando nas pedrinhas do calçamento. Era uma caminhada considerável até o meu lugar, mas eu não me incomodava, tinha muito pensamento pra pensar ainda. Não tinha pressa. Ia passando pela pracinha, olhando pro alto, entretida com as estrelas, quando ouvi uma respiração. Num susto, olhei pros lados. Vi você. Sentado num banquinho, parecia distraído. Parei, olhei você por uns instantes, até gravar seu rosto na cabeça e continuei meu caminho.
Quando me deitei no carro, e me dei aos meus devaneios, o que antes eram corpos sem rostos (ou os rostos dos atores da novela), agora eram o seu rosto. Me surpreendi comigo mesma.
Passaram-se alguns dias e mais ou menos uns quatro dias depois daquele, quando cheguei aqui, vi uma pessoa sentada. Era você. Pensei em ir embora, mas pensei “esse lugar é meu, não posso ir assim”. Criei coragem, vim e me sentei do seu lado. Primeiro não falamos nada, ficamos só olhando pra frente. De vez em quando eu arriscava uma olhada pro lado, mas quando você olhava, eu ficava com vergonha e voltava a olhar pra frente.
Sem saber o que fazer, me deitei. Você me imitou. E falou. E falamos até perder a noção da hora.
Sem combinar, nos encontrávamos sempre. E o tempo foi passando. No meio de uma conversa normal, um beijo. Inesperado. Enquanto eu falava, olhando o céu e totalmente entregue, você me beijou. Fiquei perdida, sem saber o que fazer, nem o que pensar. Já estava apaixonada por você, sem saber o que era. Desde o primeiro dia em que só te vi. Mesmo sem trocar uma palavra sequer.
Hoje, com você aqui do meu lado, eu consigo ser diferente. Sentir tudo. Consigo sentir tudo. Como as coisas devem ser. E fico tentando entender o que se passa na sua cabeça. Eu, antes uma mulher vazia, carente de sentimentos que nem sabia nomear, me vejo agora refém dos mais belos encantamentos que nunca pensei existirem. O tempo me maltratou, mas me fez entender que saber esperar é uma das mais importantes lições que podemos levar dessa vida. Porque o que era meu, iria chegar na hora certa. No tempo que tivesse de ser.
Quando você chega e eu sinto esse seu perfume, é como se eu fosse uma panela e dentro de mim tivessem pipocas estourando. Eu sorrio só de pensar!

Larissa Fontes

Silêncio que fala


Amo-te assim, amiúde
ocultando cada detalhe
para proteger-te de todo olhar.

Tateando, como no escuro
cada pensamento teu no meu,
para que de muito amor,
possam emergir e transbordar de ti,
como mar que não se contenta
e vem através de suas ondas tocar-lhe os pés.

Meus loucos desvarios,
voam lentamente até onde estás,
e chego a tocar teu rosto com uma feroz calma
irreconhecível.

Me mete medo essa coisa que vem de ti,
tranformando-se em ânsia de conhecer-te
ousando sentir cada silêncio e cada distância
que me trás de volta a mim.

Larissa Fontes

sábado, 25 de outubro de 2008

Porto do Avre, 7 de setembro de 1964


Tonzinho querido,


Estou aqui num quarto de hotel que dá para uma praça, que dá para toda a solidão do mundo. São dez horas da noite e não se vê viv'alma. Meu navio só sai amanhã a tarde e é impossível alguém estar mais triste do que eu. E como sempre, nessas horas, escrevo para você cartas que nunca mando. Deixei Paris para trás com a saudade de um ano de amor e pela frente tem o Brasil, que é uma paixão permanente em minha vida de constante exilado. A coisa ruim é que hoje é 7 de setembro, a data nacional, e eu sei que em nossa embaixada há uma festa que me cairia muito bem com o Baden mandando brasa no violão. Há pouco, telefonei para lá, para comprimentar o embaixador e veio todo mundo ao telefone. Estou queimando um ódio firme. Você já passou um 7 de setembro, Tonzinho, sozinho num porto estrangeiro, numa noite sem qualquer perspectiva? É fogo, maestro! Estou doido pra ver você e Carlinhos e recomeçar a trabalhar. Imagine que este ano foi praticamente dedicado ao Baden, pois Paris não é brincadeira. Mas agora o tremendão aconteceu mesmo, a Europa teve que curvar-se. Mas ainda sim, fizemos umas musiquinhas, como Formoza, você vai ver! Tudo sambão! Parece até que a saudade do Brasil, quando a gente está longe, procura mais a forma do samba tradicional do que a Bossa Nova, não é engraçado? São, como diria o Lúcio Rangel, as raízes. Vou agora escrever para casa, pedindo dois Menus diferentes para minha chegada. Para o almoço, um tutuzinho com torresmo, um lombinho de porco bem tostadinho, uma covinha mineira e doce de coco. Para o jantar, uma galinha ao molho pardo com um arroz bem soltinho e papos de anjo. Mas daqueles como só a mãe da gente sabe fazer, daqueles que se a pessoa fosse honrada mesmo, só devia comer metida num banho morno e em trevas totais, pensando no máximo na mulher amada. Por aí você vê como eu estou me sentindo, nem cá, nem lá. Fiquei muito contente com o sucesso de garota de ipanema nos estados unidos e Astrudinha hein? Que negocio tão direito! Vamos ver se desta vez, os intermediários deixam algum para nós. Fiquei muito contente também com a notícia do sucesso de Berimbau aí no Brasil. Dizem que estão tocando a musiquinha pra valer. Isso me alegra muito pelo Baden. E pra que mentir? Por mim também. É bom saber que a gente não foi esquecido, que o povo continua cantando as nossas coisas, pois no fundo mesmo é pra ele que a gente compõe. Lembro-me tão bem quando fizemos o samba, uma madrugada. A uns três anos atrás, por aí. Eu disse a Baden "Isso tem pinta de sucesso", e ficamos cantando e cantando o samba até o sol raiar.

Vinícius de Moraes

Desespero da piedade


Meu Senhor, tende piedade dos que andam de bonde e sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos;

Mas tende piedade também dos que andam de automóvel quando enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos na direção.

Tende piedade das pequenas famílias suburbanas e em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos.
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam e sem saber, inventam a doutrina do pão e da guilhotina.

Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta, que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina.
Mas tende mais piedade ainda do impávido, forte, colosso do esporte, que se encaminha lutando, remando, nadando pra morte.

Tende imensa piedade dos músicos de cafés e casas de chá, que são virtuosos da própria trizteza e solidão.
Mas tende piedade também dos que buscam o silêncio e súbito se abate sobre eles uma área da Tosca.

Não esqueçais também, em vossa piedade, os pobres que enriqueceram e para quem o suicídio ainda é a mais doce solução.
Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram e tornam-se heróicos, que a santa pobreza dá um ar de grandeza.

Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos, que em suas alminhas claras deixam a lágrima e a imcompreensão.
E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vão...

Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros, que se enfeminam por profissão, mas que são humildes em suas carícias.
Mas tende mais piedade ainda dos que cortam o cabelo, que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!

Tende piedade dos sapateiros e caxeiros de sapataria, que lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos.
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo, nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.

Tende piedade dos homens úteis como os dentistas, que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer.
Mas tende mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia, que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.

Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos, pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão.
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes. Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.

E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tende piedade das mulheres. Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres. Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres. Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

Tende piedade da moça feia, que serve na vida de casa, comida e roupa lavada da moça bonita.
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita, que o homem molesta, que o homem não presta, não presta, meu Deus!

Tende piedade das moças pequenas das ruas tranversais, que de apoio na vida só tem Santa Janela da Consolação e sonham exaltadas nos quartos humildes, os olhos perdidos e o seio na mão.

Tende piedade da mulher no primeiro coito, onde se cria a primeira alegria da Criação e onde se consuma a tragédia dos anjos e onde a morte encontra a vida em desintegração.

Tende piedade da mulher no instante do parto, onde ela é como a água explodindo em convulsão, onde ela é como a terra vomitando cólera, onde ela é como a lua parindo desilusão.

Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas, porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade.
Mas tende piedade também das mulheres casadas, que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas, que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas, mas que vendem barato muito instante de esquecimento e em paga o homem mata com a navalha, como fogo, com o veneno.

Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas, de corpo hermético e coração patético, que saem à rua felizes, mas que sempre entram desgraçadas, que se crêem vestidas, mas que em verdade vivem nuas.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres. Que ninguém mais merece tanto amor e amizade, que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade, que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras, que são crianças e são trágicas e são belas. Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam e que tem a única emoção da vida nelas.

Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse ter piedade de si mesma e de sua louca mocidade. E outra, à simples emoção do amor piedoso delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas a vida fere mais fundo e mais fecundo. E o sexo está nelas, e o mundo está nelas e a loucura reside nesse mundo.

Tende piedade, Senhor, das santas mulheres, dos meninos velhos, dos homens humilhados. Sede enfim piedoso com todos, que tudo merece piedade.
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!

Vinícius de Moraes

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Romeu e Julieta


A mais bela história de amor, mundialmente famosa. Romeu e Julieta é a história de dois jovens amantes infelizes, cujas famílias são inimigas. Duas casas, iguais em dignidade, na formosa Verona vos dirão. Eles se apaixonam instantâneamente, mas por causa do ódio que suas famílias devotam uma a outra, sua felicidade e juventude são diperdiçadas. E morrem do modo mais trágico. Uma melancólia paz, o sol, por tristeza recusa-se a mostrar seu rosto. Porque nunca houve história mais triste do que esta de Julieta e de seu Romeu.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Na vontade mesmo


Posso te falar de hoje,
do que foi ontem
e do que eu espero do amanhã
Da vontade de falar
e do silêncio que eu sei fazer.
Posso ver o que você é
e não posso, nem que me fales
te entender.

Te escuto silenciosa
e me sinto como guardiã dos teus segredos,
o teu porto, teu oratório
lugar de descanso,
onde só haja paz, segurança
sentimento de casa
como se tua prece, fosse a minha mesma.

O meu hoje é incerto,
como já foi o meu ontem
amanhã, quero o certo,
a paz, o porto
Ter você como minha vela,
sereno como o sol

que és.

Larissa Fontes

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

53 passos


Tem um hotel na esquina da minha casa. Às vezes eu fico lá e venho andando. São 53 passos até minha casa. Eu olho pra o monte de janela que tem lá e imagino que você chegou e está alí. Olho pra uma do canto direito e te vejo. Vejo uma sombra, mas sei que é você. Eu paro em frente à árvore cortada e olho pra cima. Você sumiu da janela. Algo me faz olhar pra trás e você está ali, parado na esquina. Eu não sei nem se consigo sorrir, e no seu rosto, existe uma expressão que eu não consigo desvendar. Vou andando na sua direção com a maior cara de boba que eu consigo fazer. Agora a gente está se olhando bem de pertinho. Não vejo mais ninguém na rua. Não estranharia se aquela música começasse a tocar.


- O que você veio fazer aqui? - Foi a única coisa que saiu da minha boca.

Você me abraça e me aperta. – Isso!

Ficamos um bom tempo assim, e o mundo parecia tão calmo. Nada de mal poderia acontecer em lugar nenhum. Até que nos deu um estalo, você me pegou pela mão e fomos andando em direção a praia. Acho que a ficha ainda não tinha caído, porque não falamos nada até chegar. Só calados, de mãos dadas, sentindo um ao outro. Chegamos e nos sentamos na areia. Ainda ficamos um pouco sem saber o que falar, mas depois de um beijo, tudo fluiu. Parecia que você sempre estivera ali, era como se você nunca tivesse saído do meu lado. Eu te contava do meu dia, do meu teatro, das minhas artes. Você me falava do teu instrumento, do teu trabalho. Sorríamos o tempo inteiro, o sorriso só dava lugar às gargalhadas.

A lua sabia que você ia chegar. Se arrumou toda pra te receber, estava cheia, grande e alta e as estrelas a faziam companhia. Fazia uma luz linda no mar, tudo se refletia nele. Tudo estava enfeitado. Nos deitamos na areia pra ver as Três Marias e ficamos algum tempo calados. Agora foi você quem quebrou o silêncio.

- O problema de se ver a magia da vida nas coisas é sempre precisar delas pra se orientar.

- Como, lindo?

- Não é nada demais. Só te falei isso. Deu vontade!

Falamos sobre os poemas, os poetas, as palavras, os sentimentos, os nossos sonhos, o amor. Quando você falava, eu ficava te ouvindo calada e atenta, com sede de ouvir cada palavra, com ânsia de saber o que você pensava sobre determinado assunto e ficava impressionada com a sua facilidade em transpor o sentimentos em palavras. Te ouvia feito um aprendiz ouve o mestre. E te ouviria sempre, todos os dias, todas as horas, incansavelmente e exageradamente.

As estrelas, que nos deitamos para admirar, agora davam lugar ao sol, que a nós, já adormecidos na areia branca da praia, veio acordar.

Foi assim que você veio me ver.

Tudo isso durante 53 passos, da esquina até a minha casa. Na minha cabeça. Escutando Seu Jorge no mp4. Eu posso realmente te enxergar no escuro.

Larissa Fontes

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

,ora!


Um coração de sentimentos conturbados. Terreno fértil, onde ninguém sabe que frutos vou colher. Que plantemos, ora!


segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Primeiro capítulo


- Qual seu nome?
- Lara e o teu?

Não entendeu direito, mas não ousou perguntar outra vez.

Sempre ia naquele lugar. Além da comida ótima e de bastante bonito, tinha uma energia boa. Ele sempre estava lá trabalhando. Não era o que poderíamos chamar de atraente, essa não era lá uma de suas qualidades, mas ele tinha alguma coisa que puxava o olhar dela. Olhavam-se e até trocavam um sorrisinhos educados.

Essa foi a primeira troca de palavras direta entre eles.

Ela tinha acabado de sair de um lugar que a tinha deixado mal, estava com a cabeça confusa e sem vontade de conversar. Mas até sorriu quando ele perguntou seu nome.

Ela pensou em procurá-lo pela internet, já que nela tudo se encontra. Mas chegando em casa, com a cabeça cheia, esqueceu. Outro dia, pensou nisso e resolveu tentar. Mas não sabia por onde começar. Escreveu o nome do restaurante no Google, tentando ver um nome parecido com aquele. Mas ela não tinha certeza, não havia entendido perfeitamente seu nome e resolveu que ia deixar por conta do destino.

Escrever um pedaço dessa história cada vez que encontrá-lo.

Já chegou lá pensando que ele poderia estar. Sentou-se e olhou para o balcão, onde ele costumava ficar, mas não o viu. Ficou desanimada, mas não triste. Era uma coisa boa aquilo, se ele estivesse lá, tudo bem, senão, fazer o que? Não era algo que a fizesse mal de alguma forma. Pelo contrário. Era engraçado. Ela sabia que nunca haveria nada entre eles, nem chegava a querer isso, mas aquela situação, ela sentada, com apenas alguns metros os separando e um vidro que parecia uma barreira frágil, que podia ser quebrada a qualquer momento, os dois se olhando através dela, essa situação a agradava. Se sentia alegre.

Ele chegou quando ela ainda estava de costas. Quando virou-se sem querer, o viu falando no celular. Parecia preocupado, desligou e o celular tocou novamente, dessa vez ele atravessou a rua para atender, como quem quisesse quase gritar com alguém e se afastasse pra que ninguém escutasse.

Ela o viu. Ele a viu. Nesse dia eles se viram, mas não se olharam ao mesmo tempo. Nada de sorrisos educados, nem alguma palavra trocada. Só sentiram a presença um do outro. E foi bom.

Larissa Fontes

sábado, 11 de outubro de 2008


Eu quero tanta coisa,
Quero tudo
E quero agora!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Conjugação da ausente

Tua graça caminha pela casa
Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes
A cabeça enterrada nos ombros qual escura
Rosa sem haste. És tão profundamente
Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento.
A cadeira é cadeira e o quadro é quadro
Porque te participam. Fora, o jardim
Modesto como tu, murcha em antúrios
A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te
Quer. És vegetal, amiga...
Amiga! direi baixo o teu nome
Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
Que te emoldura, fatigada, e ao
Corredor que pára
Para te andar, adunca, inutilmente
Rápida. Vazia a casa
Raios, no entanto, desse olhar sobejo
Oblíquos cristalizam tua ausência.
Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, te venero, te idolatro
Numa perplexidade de criança.

Vinícius de Moraes

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Isso


Vou pedir pra que você me olhe. Só mais um pouco, que eu entenda o que queres dizer ou que ao menos eu tenha idéia do que se passa na tua cabeça. É demais né? Não meço meus desejos, ou meço. Acho que até demais. Estou me contradizendo. Acontece.

As vezes eu sei o que vai acontecer. Até um gesto teu eu pressinto, pelo menos os gestos. Isso de tanto te olhar. É! E sei também o que vai acontecer quando surge um momento ruim. Sei que a gente vai gritar, que eu vou querer sair, que você vai machucar o meu braço tentando me segurar. E sei que depois de um tempo, ficamos calados. Os dois, juntos. Esperamos a raiva passar lado a lado e ela realmente vai embora. Sem que falemos nada.
E sem que falemos nada, vamos levando "isso", porque é "disso" que há de nascer tanta coisa ainda, que não vale a pena querer dar um nome.

Larissa Fontes

Se chamar


Se você me chamar, eu vou agora

vou com a roupa do corpo
com o cabelo dessarumado,
até com cara de sono.
Largo tudo
vou cantando alto pra quem quiser ouvir
vou dançando, rebolando,
vou correndo!

É só eu ouvir um "la..." da sua boca,
que eu me desespero,
eu grito, eu brigo!
Eu chego, pode até não ser hoje,
amanhã, talvez.
Mas espera, que eu vou..

Larissa Fontes

domingo, 5 de outubro de 2008

Reclamando território


Ele as vezes sumia. Quando isso acontecia, meio que se apagava nela. A fazia pensar que estava se apagando nela também e olhava pro chão desanimada. Não sabia onde ele estava, o que fazia. Sabia que ele também não sabia nada dela. Estranho essa distância da sintonia.
Então, ele reaparecia com a mesma normalidade que sumia. Chegava com aquelas palavras que davam aquela paz, e ela não sabia se ele tinha pensado nela esse tempo, mas ao ouvi-lo se calava. Como se uma luz se acendesse no momento exato.

Sentia esse sentimento dependente de algo que o alimentasse. Atenção, um carinho. Apesar da ligação, quando ela pensava nele, alguma coisa lá dentro estalava, como quem reclama um território.
O sentia distante... E pedia pra que ele não deixasse isso acontecer.

Larissa Fontes


Janta


http://br.youtube.com/watch?v=UmH5s4snQRQ&feature=related

Eu quis te conhecer/ mas tenho que aceitar/ caberá ao nosso amor/ o eterno ou o "não dá"/ pode ser cruel a eternidade/ e eu ando em frente por sentir vontade/ Eu quis te convencer/ mas chega de insistir/ caberá ao nosso amor/ o que há de vir/ Pode ser a eternidade/ mas caminho em frente pra sentir saudade...

Paper clips and crayons in my bed/ everybody thinks I'm sad/ I take my ride in melodies/ and bees and birds/ will gear my words/ will be both us and you and them together/ I can forget about myself trying to ve everybody else/ I feel allright that we can go away/ and please, my day/ I'll let you stay with me if you surrender...

Marcelo Camelo e Mallu Magalhães

"o eterno ou o 'não dá'... o que há de vir."
Tanto faz, desde que...

sábado, 4 de outubro de 2008

Você


Quero te querer sem querer que mude qualquer coisa
assim não seria mais você.
esse você.
Quero conhecer esse você inteirinho,
sem faltar nada.
Sei que tenho de esperar
esperar nem sei o que.
E esperarei com toda a calma que o tempo destinar
Pois o que há aqui dentro não é rebelde, nem ansioso
É paciênciente, ciente (!) e tranquilo.

Larissa Fontes

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Semisonho


Estava sentada, numa aula. E num momento de sono incontrolável, eu hoje fechei os olhos. Uma linha escura foi contornando o ar e tornou-se lentamente no seu contorno do seu rosto. Depois, foi como se estivesse saindo de uma penumbra e vindo em minha direçao. Seu rosto sorrindo pra mim. Abri os olhos assustada. Com um sorriso.