quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Amor pra recomeçar!


eu te desejo não parar tão cedo,
pois toda idade tem prazer e medo;

e com os que erram feio e bastante,
que você consiga ser tolerante;

quando você ficar triste,
que seja por um dia e não o ano inteiro;

e que você descubra que rir é bom,
mas que rir de tudo é desespero;

desejo que você tenha a quem amar
e quando estiver bem cansado, ainda exista amor pra recomeçar!

eu te desejo muitos amigos,
mas que em um, você possa confiar;

e que tenha até inimigos,
que é pra você não deixar de duvidar;

desejo que você tenha a quem amar
e quando estiver bem cansado, ainda exista amor pra recomeçar!

eu desejo que você ganhe dinheiro,
pois é preciso viver também
e que você diga a ele pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono de quem!

desejo que você tenha a quem amar
e quando estiver bem cansado, ainda exista amor pra recomeçar!

PRA RECOMEÇAR!

Frejat


Então, mais um ano que tá entrando pela nossa porta e que ele traga amor, amor pra recomeçar!


domingo, 28 de dezembro de 2008

Até então


Você chega e quebra todo o realismo do lugar
tudo começa a tremer, as coisas até saem do chão
Até que você mesmo, estala os dedos
e tudo pára. Cada coisa no seu lugar
como deve ser e ninguém tinha entendido até então.

Larissa Fontes

Meio, pela metade, mais ou menos.


Amar pela metade, meias verdades, querer mais ou menos... Isso tudo podia não ser, mas é tão constante. Ou tudo ao contrário: amar por inteiro, sinceridade plena, desejo desesperado... Tudo tão confuso, né? Feito só se perceber quem está indo embora, amar só vendo o fim do amor da outra parte. É de todo mundo esse negocio de se agarrar na saudade até sem querer, de sentar e ficar olhando pro nada, como se não estivesse vendo o tempo passando e esbarrando em você toda hora. É?


terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Passeio pelos "constantes" pensamentos...


Tem uma coisa que eu penso muito, a cada ansiedade minha: que eu sou jovem, que vou aprender muita coisa ainda, que vou estudar e ser uma grande atriz, que vou entender muito mais da vida e ser uma grande pessoa, escrever bem, conhecer palavras, pessoas e sentimentos novos. Só que ao mesmo tempo, me vem uma sede de tudo ter que ser agora, um negócio de "tenho que tentar, a hora é agora"... Vontade de ir embora, de estudar só o que eu gosto, de fazer só o que eu gosto, de fazer arte, conhecer, conhecer, conhecer... Tudo isso acompanhado de um medo. Medo de não conseguir, medo de não tentar... Medo do desconhecido.

Quando pequena, uma hora pra mim era uma eternidade, demorava tanto a passar, uma agonia. Hoje, uma hora não é tempo suficiente nem pra me arrumar pra sair. E quando eu penso em toda a minha ansiedade, penso junto que já já meus dezoitos anos passaram, vou ter responsabilidades, que talvez olhe pra trás e me arrependa de tantos medos. E não quero isso. Quero tentar, mesmo com medo. Quero seguir os meus instintos. Mais que isso: seguir o meu coração.
Passar por cima dos medos, ou até pegá-los como ajuda, para que me guiem na medida certa. Que me mantenham alerta, pois o desconhecido nem sempre é amigo.
Li hoje "Carta a um jovem ator", do cineasta Domingos Oliveira e esse texto me fez dar uma volta pelos meus pensamentos que apesar de constantes, necessitam de muito serem trabalhados ainda.
Os seus primeiros conselhos foram de total apoio à minha sede: viva cada dia como se fosse o último, respeite seus desejos. E então, termina com um belo "vocês tem muita coisa a aprender".
A pressa que as vezes me aflige, tento conter. Mas a ansiedade é mais forte que eu, me consome muito, em muito do que faço. Tenho sede de logo. Do agora.

Ao som de Caetano em "Oração ao tempo", não sei mais o que dizer...

"Peço-te o prazer legítimo
e o movimento preciso
tempo, tempo, tempo, tempo
quando o tempo for propício
tempo, tempo, tempo, tempo..."

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008


Meu coração esses dias falou teu nome sem querer.

Parei.
Foi como conseguir escutar música da chuva,
exergar o céu no teu chapéu azul...

Larissa Fontes

domingo, 14 de dezembro de 2008

Um dia desses eu apareço


Um dia desses eu apareço,
te abraço sem dizer nada
não vai precisar,
você sentirá tudo o que eu quero passar.

Um dia desses eu apareço,
te olho e te sorrio sincero
talvez você não saiba o que fazer
mas não se preocupe,
porque eu também não sei.

Um dia desses eu apareço,
te peço a mão e seguro com força
talvez você não entenda,
mas vai sentir o calor e aquela sensação.

Um dia desses eu apareço
e te entrego um bilhete
com uma frase qualquer de música
e vá embora,
mas estarei de longe olhando o sorriso que vai dar.

Um dia desses eu apareço,
canto pra você a nossa primeira música
e talvez você me abrace.
Talvez não.

Um dia desses eu apareço e talvez...


Larissa Fontes

pedido de casamento

eu sei que a gente ia ser feliz juntinho
pra todo dia dividir carinho
tenho certeza que daria certo,
eu e você, você e eu por perto.

eu só queria ter o nosso cantinho,
meu corpo junto ao seu mais um pouquinho
tenho certeza que daria certo,
nós dois sozinhos num lugar deserto.

se você não quiser,
me viro como der
mas se quiser, me diga por favor!
pois se você quiser,
me viro como for
para que seja bom como já é.

eu sei que eu ia te fazer feliz
dos pés até a ponta do nariz
da beira da orelha ao fim do mundo,
sugando o sangue de cada segundo.

te dou um filho, te componho um hino,
o que você quiser saber, ensino
te dou amor enquanto eu te amar
prometo te deixar quando acabar.



arnaldo antunes

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008




Só pra não correr o risco de nunca mais te ver na vida...


sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Do lado de dentro


Tenho tido muito tempo comigo mesma. Distante do que é preciso estar e bem ciente do que isso tudo pode fazer acontecer. Anciosa por cada pensamento e idéia que me vêm, por agarrá-los com toda a minha força. Porque são meus. Serenenizando o coração, pra mais tarde colher tudo que há de vir com a maturidade necessária e a calma alcançada por tantos momentos de "eu comigo".
Estou sendo eu, buscando o eu, conhecendo o eu aqui dentro.
Penso depois de algumas atitudes e julgo se é certo e em como me sentiria se o fizessem comigo. Já olho pra janela ao andar de avião, embora isso não espante o meu medo; já não olho as horas o tempo inteiro, embora isso não diminua a minha ansiedade; já consigo ficar sem o celular, embora deseje falar com alguém; já consigo ser dura e fria quando preciso, embora essa não seja eu; e já consigo ficar sozinha sem me sentir tão só. Estou comendo a solidão. Aproveitando-a, curtindo-a. Solidão no bom sentido, tá? Haha! Nada de tristeza.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Para a minha flor


Uma flor hoje sorriu pra mim. Era de um vermelho incrivelmente vibrante. Jurei que a tinha ouvido falar e cheguei mais perto. Ela me disse que almas e auras que transbordam e exalam perfume de poesia sempre se encontram, mesmo sem querer. E é sempre lindo, como tudo que soa poético. Como música, com ritmo e letra em sintonia. Como olhares que se encontram regados a sorrisos bobos e radiantes.
A flor pediu que eu não fosse embora. Eu não queria ir. A queria comigo todo o tempo de agora em diante. Mas se a arrancasse, ela morreria, logicamente. Então lembrei de um trecho do livro Brida, de Paulo Coelho. Ele disse que quem possuir uma flor, verá sua beleza murchando, mas quem apenas a olhar, a terá para sempre. E assim a tenho e a terei. Para sempre.


Larissa Fontes

domingo, 30 de novembro de 2008

Cidade das flores


Não deixe de sorrir ao olhar pro lado e ver somente flores
num lilás beirando o azul e um amarelo fraquinho
Não deixe de enxergar a magia em tudo que há
e em qualquer instante
pois ela está, sempre estará.
Não deixe conter o encanto ao ver tantas luzes
e seus reflexos em toda parte,
pois mesmo que ainda não seja natal,
a expectativa dele traz o significado da palavra luz
em seus sentidos mais bonitos e poéticos.
Não deixe de querer ficar pra sempre nesse lugar
onde a temporada das flores se dá até no inverno
e tudo pode ser feito delas
de paredes extensas até arvores de natal.
Não deixe de se encolher num aconchego de si próprio
ao sentir o arrepio que o frio de uma brisa constante provoca.
Não deixe de se emocionar.
E mais uma vez, repito:
Não deixe de ver a magia em tudo que existe,
Não deixe de enxergar a magia em todo instante.
Porque pode-se viver dela.
É só acreditar.
Esse é o segredo.

Larissa Fontes

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Corro


"Hoje eu achei um caderno na rua. Estava meio sujo, meio velho. Não sei por quê, chamou minha atenção e o peguei. Quando o abri, vi que era um diário e mal consegui me conter até chegar em casa pra lê-lo todo.
Na primeira página, uma pessoa com um desespero que eu pude sentir ao ler, escreveu:

"Corro de trocar o que já tenho por isso que sinto quando tenho você por uns minutos e vejo voce ir embora, do inesperado nó na garganta te vendo entrar num carro e ao olhar o carro se afastar, ficar pensando que alí dentro está o homem da minha vida indo pra longe. Do que sinto quando te vejo de longe, do que sinto quanto te vejo se aproximar e do que sinto quando te vejo de perto. Tão perto quanto duas pessoas podem estar.
Corro de depender de você a minha felicidade e o meu amor; de só conseguir formar palavras pra você. De te ver em tudo que vejo, de só falar em você, de não saber quando te ver de novo.
Corro de saber que és tão desprendido de mim ao ponto de não sentir o meu pensamento. De tentar fazê-lo sentir, com tanta força. De quase enlouquecer por não saber o que estás fazendo agora e ter medo de te ligar.
Corro do medo de parecer pegajosa e mais uma apaixonada, mais uma que te quer e quer teus encantos.
Corro de não esquecer teu pé tocando o meu, tua boca na minha, teu olho no meu, teu sorriso pra mim, a visão de você coçando a nuca ao me encarar pelos vidros.
Corro de ter ciúmes teus! De não querer mais nada da minha vida que não seja ou não tenha a ver com você. De pensar que você não pensa em mim sequer uma vezinha por dia, de não estar pensando AGORA!
Corro do único meio de comunicação. De querer que me ligue, que me ligue todo dia. De te querer o tempo inteiro, cheio de defeitos.
Corro de não conseguir tirar os olhos de você. Corro de isso não passar. Corro de você. Corro de te amar."

Guardei ele na minha cabeceira e não me canso de ler. Qualquer dia mostro mais."

Larissa Fontes

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

"tudo é tão meu quando você vem se chegando, chegando de um modo só seu..."


Sabe aquela coisa de sorrir sozinha?
Hoje aconteceu de novo!

Um jeito de ser que dá vontade de sentar e olhar só o sendo acontecendo, entende?
Tô ficando complexa, não dá, não dá!
Tô rindo, tô rindo!


"Você sabe fazer tudo o que faz, nada existe em você que eu não goste demais! Quando você me diz: 'me apaixonei por você, meu', faz a cara feliz de quem sabe o que é seu... Eu nunca vi nada assim, ô loco!" Djavan

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Quando faltou energia


O céu parece estar gritando pelo meu olhar. Me sento e olho, então. Os pontinhos estão mais acesos do que nunca, e eu diria que alguns estão até maiores que o normal. E mais que o normal também, nessas horas vem o turbilhão de pensamentos. Mais um encontro comigo mesma e procuro aproveitar pra tirar o máximo que puder dele. Como o céu, as coisas dentro de mim gritam. Quero primeiro acalmar tudo isso aqui. Organizar: você vai pra um lado, você pra outro, isso descarta, aquilo guarda.

Larissa Fontes


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Clarinho


Olhos tão claros que a fizeram enxergar um mundo
desconhecido e desconcertante, embora atraente.
A atraía para conhece-lo,
para gostar daquilo que ele tinha a oferecer.
Hora certa, lugar certo, pessoa certa
momento certo, tudo certo!
Acredita no destino
e ele sempre prega peças.
Pode não as entender de imediato,
mas procura ter a compreensão
de que mais cedo ou mais tarde
vem a explicação
em forma de flor, de vento
uma brisa que sopre e que venha a avisar
de que chegou, que está alí
azul como céu
clarinho como a água.
Que veio te ajudar, te proteger
te abraçar e até te cantar
aconchegar no teu colo,
dizer carinhos encantados
acariciar a tua beleza
de dentro e de fora
pra que se fundam e se dividam.
Como sempre, a conspiração
organizando o que há lá dentro
transformando tudo em luz
deixando tudo em paz,
dando a tudo, felicidade!


Larissa Fontes

E sorria, sorria!


E foi a primeira vez que ela sorriu sozinha, e enquanto sorria, achava mais lindo ainda o fato de estar sorrindo sozinha pela primeira vez. E sorria mais ainda. As pessoas a olharam, a deixaram tímida, mas mesmo a timidez não conseguiu conter os sorrisos. Apoiou a cabeça nos joelhos, e sentada, sorriu mais e mais.

Que carinho foi aquele que a fez afrouxar o sorriso daquela forma?


Larissa Fontes

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Baques, verdades, sim!


Eu pensei tanta coisa
chamar atenção, ou até me calar.
Mas calar pra que?
Se tenho aqui dentro tanta coisa bonita
pra sentir, pra falar!

Vi coisas bonitas, baques de realidade,
Procurei um silêncio cheio de sabedoria e achei
achei enfim, uma verdade.

Então peço agora que meu coração fale
que grite, que esperneie, que faça o que bem entender
não quero ter que conter
abafar, ou tentar fazer com que se distraia, que mude.

Reuno agora todas as palavras que possam dar nomes ao meu lado de dentro!

Digo sim!
Até para o caminho triste...


Larissa Fontes

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Um lampejo


Ela dormia no sofá, esperando-o chegar. Adormecia sem querer, o sono a vencia. Ele abria a porta com cuidado, querendo fazer uma surpresa, e a encontrava adormecida no sofá. Ficava um tempo ajoelhado, olhando-a tão serena, dormindo. Depois a pegava no colo e a colocava na cama.
Ela tinha o sono pesado, apenas sorria. Quem sabe sonhando...
Esse era um momento de paz, onde no ar só havia o amor.

Larissa Fontes

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Ele alí, tão irreal...


"Eu não sei fazer poesia, nem escrever bonito, mas tenho de falar de quando o vi. Ele alí, tão irreal, sentado na minha frente.

Eu trabalhava de garçonete naquele bar desde que eu tinha 16 anos. Estava acostumada com bêbados me cantando e vomitando todo fim de noite, acho que até fiquei meio antipática por conta disso. Nunca dei ousadia pra nenhum daqueles homens, primeiro porque eu estava trabalhando e segundo porque tinha nojo da maioria deles. Mas não dizia nada. Servia quieta, fazia meu trabalho bem feitinho pra não dar brecha pra reclamação.
Fazia um tempo que eu via um rapaz bem bonito que vinha sempre aos sábados e sentava na mesma mesa, lá no fim do bar. Eu nem tinha coragem de ir lá, tão bonito ele era. Sempre mandava o Bento, o outro garçom que trabalha comigo, que é muito meu amigo. Acho que o único amigo que eu tenho. O Bento é meio gay, apesar de nunca ter assumido, e sempre ia de bom grado atender o rapaz bonito. Sempre pedia umas cervejas e ficava lá, bebendo sozinho. O Bento me conhece bem e percebeu que eu ficava meio nervosa quando ele chegava, por isso acho que ele abriu mão da paquera e deixou pra mim, porque sempre vinha me dizer algo que descobria sobre ele.

Mas o que eu quero realmente contar, foi o dia em que ele chegou e não sentou na mesa de sempre. Sentou-se no balcão e então foi que o vi tão de perto. Ali, tão irreal, sentado na minha frente. Me olhou e simplesmente foi falando.

- Tive um sonho ruim...

Foi como se ele tivesse aberto tudo dentro de mim. Como se nos conhecêssemos desde sempre. Mesmo nunca tendo trocado uma palavra sequer com ele, eu sabia que estava falando comigo. Então larguei o pano de prato e os copos que eu lavava e sem dizer nada, me sentei em frente a ele. Senti que ele precisava falar. Só falar. Eu só vim a esse mundo, meu Deus, para ouvi-lo.

- “Eu andava sozinho por uma praia, a noite. Parecia não saber o que estava fazendo nem pra onde estava indo, só andava e andava. De repente dei a olhar pra trás, com medo de alguma coisa. Um medo me consumiu, um medo inexplicável. Olhava pra trás e não via nada, só a escuridão. E eu acho que era justamente isso que me dava medo: a escuridão.”

- Eu também tenho medo da escuridão. Embora vive nela...

- Como assim vive nela? Se a tua aura é completamente feita de luz? Clara!

- A minha o que?

- A sua aura. É uma coisa que te emana e envolve toda, como um sopro de ar. Diz muito sobre seu emocional. A sua, posso ver, é clara como o sol.

Eu precisava dizer alguma coisa. Mas o que eu poderia dizer? Que conversa, eu, uma pessoa que não sabe o que é aura, poderia ter com um cara assim? Acho que minha cara, que ficou totalmente vermelha, falou por mim. Ele facilitou.

- Te deixei sem graça? Não era a minha intenção, desculpe.

Não consegui responder nada, só o olhei, e quando vi que ele ainda não tirara os olhos de mim, abaixei os olhos ainda me sentindo quente, dessa vez não só o rosto, mas o corpo inteiro.

Nessa hora eu já me esmurrava por dentro, como eu podia ser tão idiota e não a ponto de não saber manter uma conversa com um homem? Principalmente sendo o homem com quem eu sempre sonhara.

Vi nos olhos dele alguma coisa de estranho. Não sabia ao certo se era uma coisa boa ou algo triste, mas fiquei olhando fixamente pra eles, sem perceber. Devo ter feito alguma coisa de errado, porque ele me deu um sorriso meio tristonho, e se levantou. Ainda ficou parado em frente ao balcão, como se esperasse que eu fizesse alguma coisa. Eu apertava minhas pernas, que ele não podia ver, me castigando por não ter coragem de fazê-lo ficar.

Ele se demorou um pouco ainda, mas viu que eu não ia falar nada e se virou. Começou a andar lentamente em direção a porta, tinha a cabeça baixa.

E se ele não voltasse? Se aquela mesa ficasse vazia de agora em diante?

Não pensei em nada. Dei um grito.

- Fica comigo?

Que reação ele ia ter agora, meu Deus?

Ele sorriu e veio na minha direção."

Larissa Fontes

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sem título


Eu voltava para casa, e refletia: "Se eu aceito o sol, o calor, e o arco-íris, preciso aceitar também o trovão, a tempestade e o raio."

Kahlil Gibran em suas Cartas de amor.

Transmissão


Fecho o olho
penso penso penso..
com força!

Você sente daí?


Larissa Fontes

domingo, 9 de novembro de 2008

Para algumas queridas


Resta a sabedoria da compreensão de que nem tudo é como esperamos. A vida sempre prega peças e já deveríamos saber disso. As coisas são inesperadas e nem sempre são dignas de esquecimento. Rancor é pesado, mas ser humano consiste nesses pesos também. É como se o mundo que você montou na sua cabeça e os sonhos que ousou sonhar durante tanto tempo viessem abaixo. E não houvesse ninguém lá embaixo pra segurar. É diferente o jeito de sentir e de lidar com as situações de cada pessoa. Mas a felicidade fica pela metade quando se vê quem se ama chorar. Uma vez me disseram que que o amor não devia fazer chorar, e que acima de tudo, ninguém tem o direito de fazer outro alguém chorar. Não de dor. Não de desprezo.

Se o interior é feito de cores, de energias que se dizem lindas, inteiramente de poesia, por que transparecer uma coisa obscura e desconhecida?

Mas uma coisa é certa: um abraço muda tudo, melhora tudo!

Larissa Fontes

Hoje


Hoje eu peço que o mar se acalme
que o vento sopre baixo
eu peço silêncio.
Hoje eu quero sentir tudo que há de não conseguir se explicar
tudo que faz o olho lacrimejar e o coração acelerar.
Hoje eu quero o bem acima de tudo,
a compreensão das coisas inesperadas
e a paciência de lidar com o tempo.
Hoje eu quero a calmaria que sucede a tempestade no coração
a certeza da tranquilidade conseguida com esforço.
Hoje eu peço que o céu se ilumine
que as estrelas se mostrem
eu peço silêncio.

Larissa Fontes

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Juro!


E dizem ter visto ele se desfazer todo em chuva para que pudesse cantar pra ela toda noite.

Larissa Fontes


Hora sim, hora não


hora acalenta, hora revira
hora aconchega, hora tange
hora completa, hora arrasa
hora amansa, hora atiça...

Larissa Fontes

Bandeira


Ouvi aquela toada
você com certeza viria logo atrás
com os teus olhos de fogo
que se abriam pra um infinito conhecido meu,
com teu colo, o meu oratório
com teu cheiro de cravo
e com toda aquele dizer de sonhos,
que me encobriam num clarão
da tua passada lenta e invisível...


Que poder, meu peito tem um trovão!

Larissa Fontes

terça-feira, 4 de novembro de 2008

E se a saudade for uma coisa boa?

Me diz!

Quando olha nos meus olhos,
sinto que as coisas estão indo bem..

Timbalada

sábado, 1 de novembro de 2008

Chuva e sol


"Hoje quando abri os olhos, não queria levantar. Aqueles dias em que só se quer ficar na cama o dia inteiro, sem nem falar com ninguém. Ouvi o barulho vindo de fora do quarto e logo me veio que ali não conseguiria mesmo ficar sozinha. Fiquei mais uns dez minutos tentando dormir de novo, mas o jeito foi me levantar. Saí do quarto na esperança de que ninguém me dirigisse a palavra e me encaminhei para a porta. Olhei da janela da sala e o mar tava num verde tão lindo, azul bebê, igual ao lápis de cor. Um vento soprou no meu rosto e aquilo me animou um pouco. Fechei o olho pra sentir aquilo, aquele cheiro de praia. Desci os degraus da varanda ainda sem pensar. Estava descalça e gostei da sensação dos pés na areia. Me sentei embaixo de um guarda sol, de um lugar que dava pra ver quase toda a praia, um pouco afastado da aglomeração que existe não importe o dia da semana.

Olhava a natureza toda sendo, e me perguntava como o mar ameaçava, mas não saia do seu lugar e invadia tudo. Ri da minha própria viagem. Nesse sorriso, vi você de muito longe, andando sozinho na praia. A camisa branca se destacava no teu corpo moreno. Segurando a sandália na mão, olhava pros próprios pés que as ondas vinham abraçar. Vi que arrancou uns olhares e uns cochichos de umas mulheres quando passou e nem percebeu. Daria um doce pelo seu pensamento.

Quando já estava perto, você parou, respirou fundo de frente pro mar, tirou a camisa e se sentou. Ficou um tempo assim. Parecia não notar nada do que acontecia em volta. Deitou na areia. Eu imaginava a temperatura do teu corpo, o sol te queimando, a areia te tocando, o vento que fazia carinho na tua cabeça. Se adequando totalmente a natureza da coisa, eu via até a sua respiração tranqüila, seu peito subindo respirando fundo de tempo em tempo.

Você estava tão lindo, que eu não tinha coragem de chegar perto e desfazer a paisagem que tinha se tornado com você ali, deitado, todo sujo de areia e quente do sol. Mas creio que a vontade de te ter perto foi maior, me levantei e fui andando em sua direção com cuidado, lentamente, com uma serenidade tomando conta do meu corpo.

Cheguei bem perto e de pé, continuei te olhando. Olhando de cima era ainda mais belo, de olhos fechados, com aquele sinal em cima da marca do sorriso. Acho que fiz sombra em você, ou não sei se dei um suspiro alto, e você abriu os olhos. Senti o meu rosto ficando vermelho e aquela sensação de não poder fazer nada para evitar que eu mesma me denuncie com aquela cara vermelha e o ar de nervosismo.

Você sorriu.

Eu quis me explicar, dizer que estava sentada bem ali atrás, que vi você desde que estava muito longe, que já fazia algum tempo que estava te olhando sentado, depois deitado, parecendo nem estar aqui na terra, mas enquanto eu tentava buscar palavras pra esse discurso todo, você já tinha ficado de pé e me abraçado. Então eu senti toda a pele do teu corpo quente por causa do sol, as mãos e as costas toda melada de areia e nem sei explicar o que eu senti. Só acho que a minha cara foi aquela meio de estranhamento, de quando eu acho uma coisa muito bonita. Depois dessa cara, vem um negócio, uma sensação de estar tudo cheio aqui dentro e de tomar cuidado pra não esborrar. É bem boa, essa sensação.

Enquanto estávamos abraçados, tudo estava parado. Paradinho. Até todo o barulho havia silenciado. No momento pós-abraço, fiquei com vergonha de te olhar nos olhos, em vez disso, olhei pro chão, meio desconcertada. Quando te olhei, você me olhava com uma expressão de carinho. Acho que é essa a palavra que descrevia a tua expressão naquele momento. Nos sentamos e ficamos de mãos dadas. Apertávamos a mão um do outro, com um desejo de que não fosse embora, como se quiséssemos agarrar aquele momento. Senti os grãos de areia entre os nossos dedos e me senti segura.

Uma nuvem veio e choveu. Chuva e sol. Não nos mexemos, ficamos ali, de mãos dadas. Debaixo do sol e da chuva."

Larissa Fontes

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Com calma


Quando você some, meio que se apaga em mim, começo a pensar que estou me apagando em você também e olho pro chão desanimada. Mas aí depois você reaparece, chega com essas palavras que me dão essa paz e eu não sei se pensou em mim esse tempo, mas ao te ouvir eu me calo. Que que é isso que tem dentro de você, hein? Eu vejo no teu olhar. Sempre vi, apesar de todos os momentos ruins. E verei sempre. Como sei que pode ver no meu, todos os dias, mesmo que eu tente esconder e mesmo que meu rosto tente falar outra coisa. É só me ver. No olho.

No olho.

Com calma...

Larissa Fontes

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Urgente: tentem explicar o amor!


Não deveríamos tentar conceituar o amor. Muitos poetas conseguem falar com facilidade dele, mas eu mesma, não ouso tanto. Embora ache que seja válido, resulta nas mais belas palavras. Tentar explicá-lo. Porque ao tentar, buscamos ele próprio, puxamos ele do mais fundo de nós para transpor em palavras. Termina sendo amor. Não conseguimos sequer entende-lo, mas ele é tão forte que mesmo sem ser compreendido, toma conta de todo o ser.
Escrevemos com amor. Criamos personagens que vamos buscar do nosso âmago mesmo, que muitas vezes é fruto de uma lembrança, ou sequer um desejo gritante, que faz transbordar em forma de pessoas imaginárias. Damos amor a eles. O nosso amor, do nosso jeito. E qualquer pessoa pode fazer isso. É tão simples.
Então, por favor. Continuem tentando. Por favor, tentem explicar o amor!!

Larissa Fontes

domingo, 26 de outubro de 2008

Desabafo


Eu sempre achei a minha vida parada. Via as novelas na televisão e fiquei muitas vezes me imaginando naqueles casos. Mas só ficava imaginando mesmo, nada de desejar realmente, por não acreditar mesmo. Acho que com o tempo, fui perdendo a esperança. Triste isso não é? Mas acontece na vida, isso não é novela não.
Vinha pra cá, costumava vir sempre na mesma hora, lá pelas dez horas da noite. Deitava em cima desse carro e ficava olhando o céu. Me acalmava, sabe? Nem ligava que era perigoso, esquisito. Nunca acontecia nada. Quando dava essa hora, me batia uma solidãozinha, um aperto aqui dentro e eu saía. Nesse tempinho que eu passava sozinha, era bom. Eu ficava pensando, pensando. Eu sorria, até! Imaginava mil situações, sonhava acordada. Era o único momento de amor que eu tinha nos meus dias vazios. Pelo menos do que eu imaginava que fosse amor.
Até que você apareceu. Era um dia normal, no qual em seu decorrer, eu só ansiava realmente pelo meu momentinho. Chegou a hora, e eu fui caminhar. O céu estava bonito, a noite estava bem escura e as estrelas cintilavam, dava pra sentir o brilho. Como sempre, ninguém na rua, só o vigia do banco central, sentado em sua cadeira, com o pescoço torto, já dormindo. O silêncio era tanto, que só ouvia meus próprios passos, pisando nas pedrinhas do calçamento. Era uma caminhada considerável até o meu lugar, mas eu não me incomodava, tinha muito pensamento pra pensar ainda. Não tinha pressa. Ia passando pela pracinha, olhando pro alto, entretida com as estrelas, quando ouvi uma respiração. Num susto, olhei pros lados. Vi você. Sentado num banquinho, parecia distraído. Parei, olhei você por uns instantes, até gravar seu rosto na cabeça e continuei meu caminho.
Quando me deitei no carro, e me dei aos meus devaneios, o que antes eram corpos sem rostos (ou os rostos dos atores da novela), agora eram o seu rosto. Me surpreendi comigo mesma.
Passaram-se alguns dias e mais ou menos uns quatro dias depois daquele, quando cheguei aqui, vi uma pessoa sentada. Era você. Pensei em ir embora, mas pensei “esse lugar é meu, não posso ir assim”. Criei coragem, vim e me sentei do seu lado. Primeiro não falamos nada, ficamos só olhando pra frente. De vez em quando eu arriscava uma olhada pro lado, mas quando você olhava, eu ficava com vergonha e voltava a olhar pra frente.
Sem saber o que fazer, me deitei. Você me imitou. E falou. E falamos até perder a noção da hora.
Sem combinar, nos encontrávamos sempre. E o tempo foi passando. No meio de uma conversa normal, um beijo. Inesperado. Enquanto eu falava, olhando o céu e totalmente entregue, você me beijou. Fiquei perdida, sem saber o que fazer, nem o que pensar. Já estava apaixonada por você, sem saber o que era. Desde o primeiro dia em que só te vi. Mesmo sem trocar uma palavra sequer.
Hoje, com você aqui do meu lado, eu consigo ser diferente. Sentir tudo. Consigo sentir tudo. Como as coisas devem ser. E fico tentando entender o que se passa na sua cabeça. Eu, antes uma mulher vazia, carente de sentimentos que nem sabia nomear, me vejo agora refém dos mais belos encantamentos que nunca pensei existirem. O tempo me maltratou, mas me fez entender que saber esperar é uma das mais importantes lições que podemos levar dessa vida. Porque o que era meu, iria chegar na hora certa. No tempo que tivesse de ser.
Quando você chega e eu sinto esse seu perfume, é como se eu fosse uma panela e dentro de mim tivessem pipocas estourando. Eu sorrio só de pensar!

Larissa Fontes

Silêncio que fala


Amo-te assim, amiúde
ocultando cada detalhe
para proteger-te de todo olhar.

Tateando, como no escuro
cada pensamento teu no meu,
para que de muito amor,
possam emergir e transbordar de ti,
como mar que não se contenta
e vem através de suas ondas tocar-lhe os pés.

Meus loucos desvarios,
voam lentamente até onde estás,
e chego a tocar teu rosto com uma feroz calma
irreconhecível.

Me mete medo essa coisa que vem de ti,
tranformando-se em ânsia de conhecer-te
ousando sentir cada silêncio e cada distância
que me trás de volta a mim.

Larissa Fontes

sábado, 25 de outubro de 2008

Porto do Avre, 7 de setembro de 1964


Tonzinho querido,


Estou aqui num quarto de hotel que dá para uma praça, que dá para toda a solidão do mundo. São dez horas da noite e não se vê viv'alma. Meu navio só sai amanhã a tarde e é impossível alguém estar mais triste do que eu. E como sempre, nessas horas, escrevo para você cartas que nunca mando. Deixei Paris para trás com a saudade de um ano de amor e pela frente tem o Brasil, que é uma paixão permanente em minha vida de constante exilado. A coisa ruim é que hoje é 7 de setembro, a data nacional, e eu sei que em nossa embaixada há uma festa que me cairia muito bem com o Baden mandando brasa no violão. Há pouco, telefonei para lá, para comprimentar o embaixador e veio todo mundo ao telefone. Estou queimando um ódio firme. Você já passou um 7 de setembro, Tonzinho, sozinho num porto estrangeiro, numa noite sem qualquer perspectiva? É fogo, maestro! Estou doido pra ver você e Carlinhos e recomeçar a trabalhar. Imagine que este ano foi praticamente dedicado ao Baden, pois Paris não é brincadeira. Mas agora o tremendão aconteceu mesmo, a Europa teve que curvar-se. Mas ainda sim, fizemos umas musiquinhas, como Formoza, você vai ver! Tudo sambão! Parece até que a saudade do Brasil, quando a gente está longe, procura mais a forma do samba tradicional do que a Bossa Nova, não é engraçado? São, como diria o Lúcio Rangel, as raízes. Vou agora escrever para casa, pedindo dois Menus diferentes para minha chegada. Para o almoço, um tutuzinho com torresmo, um lombinho de porco bem tostadinho, uma covinha mineira e doce de coco. Para o jantar, uma galinha ao molho pardo com um arroz bem soltinho e papos de anjo. Mas daqueles como só a mãe da gente sabe fazer, daqueles que se a pessoa fosse honrada mesmo, só devia comer metida num banho morno e em trevas totais, pensando no máximo na mulher amada. Por aí você vê como eu estou me sentindo, nem cá, nem lá. Fiquei muito contente com o sucesso de garota de ipanema nos estados unidos e Astrudinha hein? Que negocio tão direito! Vamos ver se desta vez, os intermediários deixam algum para nós. Fiquei muito contente também com a notícia do sucesso de Berimbau aí no Brasil. Dizem que estão tocando a musiquinha pra valer. Isso me alegra muito pelo Baden. E pra que mentir? Por mim também. É bom saber que a gente não foi esquecido, que o povo continua cantando as nossas coisas, pois no fundo mesmo é pra ele que a gente compõe. Lembro-me tão bem quando fizemos o samba, uma madrugada. A uns três anos atrás, por aí. Eu disse a Baden "Isso tem pinta de sucesso", e ficamos cantando e cantando o samba até o sol raiar.

Vinícius de Moraes

Desespero da piedade


Meu Senhor, tende piedade dos que andam de bonde e sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos;

Mas tende piedade também dos que andam de automóvel quando enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos na direção.

Tende piedade das pequenas famílias suburbanas e em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos.
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam e sem saber, inventam a doutrina do pão e da guilhotina.

Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta, que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina.
Mas tende mais piedade ainda do impávido, forte, colosso do esporte, que se encaminha lutando, remando, nadando pra morte.

Tende imensa piedade dos músicos de cafés e casas de chá, que são virtuosos da própria trizteza e solidão.
Mas tende piedade também dos que buscam o silêncio e súbito se abate sobre eles uma área da Tosca.

Não esqueçais também, em vossa piedade, os pobres que enriqueceram e para quem o suicídio ainda é a mais doce solução.
Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram e tornam-se heróicos, que a santa pobreza dá um ar de grandeza.

Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos, que em suas alminhas claras deixam a lágrima e a imcompreensão.
E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vão...

Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros, que se enfeminam por profissão, mas que são humildes em suas carícias.
Mas tende mais piedade ainda dos que cortam o cabelo, que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!

Tende piedade dos sapateiros e caxeiros de sapataria, que lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos.
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo, nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.

Tende piedade dos homens úteis como os dentistas, que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer.
Mas tende mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia, que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.

Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos, pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão.
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes. Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.

E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tende piedade das mulheres. Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres. Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres. Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

Tende piedade da moça feia, que serve na vida de casa, comida e roupa lavada da moça bonita.
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita, que o homem molesta, que o homem não presta, não presta, meu Deus!

Tende piedade das moças pequenas das ruas tranversais, que de apoio na vida só tem Santa Janela da Consolação e sonham exaltadas nos quartos humildes, os olhos perdidos e o seio na mão.

Tende piedade da mulher no primeiro coito, onde se cria a primeira alegria da Criação e onde se consuma a tragédia dos anjos e onde a morte encontra a vida em desintegração.

Tende piedade da mulher no instante do parto, onde ela é como a água explodindo em convulsão, onde ela é como a terra vomitando cólera, onde ela é como a lua parindo desilusão.

Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas, porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade.
Mas tende piedade também das mulheres casadas, que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas, que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas, mas que vendem barato muito instante de esquecimento e em paga o homem mata com a navalha, como fogo, com o veneno.

Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas, de corpo hermético e coração patético, que saem à rua felizes, mas que sempre entram desgraçadas, que se crêem vestidas, mas que em verdade vivem nuas.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres. Que ninguém mais merece tanto amor e amizade, que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade, que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras, que são crianças e são trágicas e são belas. Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam e que tem a única emoção da vida nelas.

Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse ter piedade de si mesma e de sua louca mocidade. E outra, à simples emoção do amor piedoso delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas a vida fere mais fundo e mais fecundo. E o sexo está nelas, e o mundo está nelas e a loucura reside nesse mundo.

Tende piedade, Senhor, das santas mulheres, dos meninos velhos, dos homens humilhados. Sede enfim piedoso com todos, que tudo merece piedade.
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!

Vinícius de Moraes

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Romeu e Julieta


A mais bela história de amor, mundialmente famosa. Romeu e Julieta é a história de dois jovens amantes infelizes, cujas famílias são inimigas. Duas casas, iguais em dignidade, na formosa Verona vos dirão. Eles se apaixonam instantâneamente, mas por causa do ódio que suas famílias devotam uma a outra, sua felicidade e juventude são diperdiçadas. E morrem do modo mais trágico. Uma melancólia paz, o sol, por tristeza recusa-se a mostrar seu rosto. Porque nunca houve história mais triste do que esta de Julieta e de seu Romeu.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Na vontade mesmo


Posso te falar de hoje,
do que foi ontem
e do que eu espero do amanhã
Da vontade de falar
e do silêncio que eu sei fazer.
Posso ver o que você é
e não posso, nem que me fales
te entender.

Te escuto silenciosa
e me sinto como guardiã dos teus segredos,
o teu porto, teu oratório
lugar de descanso,
onde só haja paz, segurança
sentimento de casa
como se tua prece, fosse a minha mesma.

O meu hoje é incerto,
como já foi o meu ontem
amanhã, quero o certo,
a paz, o porto
Ter você como minha vela,
sereno como o sol

que és.

Larissa Fontes

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

53 passos


Tem um hotel na esquina da minha casa. Às vezes eu fico lá e venho andando. São 53 passos até minha casa. Eu olho pra o monte de janela que tem lá e imagino que você chegou e está alí. Olho pra uma do canto direito e te vejo. Vejo uma sombra, mas sei que é você. Eu paro em frente à árvore cortada e olho pra cima. Você sumiu da janela. Algo me faz olhar pra trás e você está ali, parado na esquina. Eu não sei nem se consigo sorrir, e no seu rosto, existe uma expressão que eu não consigo desvendar. Vou andando na sua direção com a maior cara de boba que eu consigo fazer. Agora a gente está se olhando bem de pertinho. Não vejo mais ninguém na rua. Não estranharia se aquela música começasse a tocar.


- O que você veio fazer aqui? - Foi a única coisa que saiu da minha boca.

Você me abraça e me aperta. – Isso!

Ficamos um bom tempo assim, e o mundo parecia tão calmo. Nada de mal poderia acontecer em lugar nenhum. Até que nos deu um estalo, você me pegou pela mão e fomos andando em direção a praia. Acho que a ficha ainda não tinha caído, porque não falamos nada até chegar. Só calados, de mãos dadas, sentindo um ao outro. Chegamos e nos sentamos na areia. Ainda ficamos um pouco sem saber o que falar, mas depois de um beijo, tudo fluiu. Parecia que você sempre estivera ali, era como se você nunca tivesse saído do meu lado. Eu te contava do meu dia, do meu teatro, das minhas artes. Você me falava do teu instrumento, do teu trabalho. Sorríamos o tempo inteiro, o sorriso só dava lugar às gargalhadas.

A lua sabia que você ia chegar. Se arrumou toda pra te receber, estava cheia, grande e alta e as estrelas a faziam companhia. Fazia uma luz linda no mar, tudo se refletia nele. Tudo estava enfeitado. Nos deitamos na areia pra ver as Três Marias e ficamos algum tempo calados. Agora foi você quem quebrou o silêncio.

- O problema de se ver a magia da vida nas coisas é sempre precisar delas pra se orientar.

- Como, lindo?

- Não é nada demais. Só te falei isso. Deu vontade!

Falamos sobre os poemas, os poetas, as palavras, os sentimentos, os nossos sonhos, o amor. Quando você falava, eu ficava te ouvindo calada e atenta, com sede de ouvir cada palavra, com ânsia de saber o que você pensava sobre determinado assunto e ficava impressionada com a sua facilidade em transpor o sentimentos em palavras. Te ouvia feito um aprendiz ouve o mestre. E te ouviria sempre, todos os dias, todas as horas, incansavelmente e exageradamente.

As estrelas, que nos deitamos para admirar, agora davam lugar ao sol, que a nós, já adormecidos na areia branca da praia, veio acordar.

Foi assim que você veio me ver.

Tudo isso durante 53 passos, da esquina até a minha casa. Na minha cabeça. Escutando Seu Jorge no mp4. Eu posso realmente te enxergar no escuro.

Larissa Fontes

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

,ora!


Um coração de sentimentos conturbados. Terreno fértil, onde ninguém sabe que frutos vou colher. Que plantemos, ora!


segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Primeiro capítulo


- Qual seu nome?
- Lara e o teu?

Não entendeu direito, mas não ousou perguntar outra vez.

Sempre ia naquele lugar. Além da comida ótima e de bastante bonito, tinha uma energia boa. Ele sempre estava lá trabalhando. Não era o que poderíamos chamar de atraente, essa não era lá uma de suas qualidades, mas ele tinha alguma coisa que puxava o olhar dela. Olhavam-se e até trocavam um sorrisinhos educados.

Essa foi a primeira troca de palavras direta entre eles.

Ela tinha acabado de sair de um lugar que a tinha deixado mal, estava com a cabeça confusa e sem vontade de conversar. Mas até sorriu quando ele perguntou seu nome.

Ela pensou em procurá-lo pela internet, já que nela tudo se encontra. Mas chegando em casa, com a cabeça cheia, esqueceu. Outro dia, pensou nisso e resolveu tentar. Mas não sabia por onde começar. Escreveu o nome do restaurante no Google, tentando ver um nome parecido com aquele. Mas ela não tinha certeza, não havia entendido perfeitamente seu nome e resolveu que ia deixar por conta do destino.

Escrever um pedaço dessa história cada vez que encontrá-lo.

Já chegou lá pensando que ele poderia estar. Sentou-se e olhou para o balcão, onde ele costumava ficar, mas não o viu. Ficou desanimada, mas não triste. Era uma coisa boa aquilo, se ele estivesse lá, tudo bem, senão, fazer o que? Não era algo que a fizesse mal de alguma forma. Pelo contrário. Era engraçado. Ela sabia que nunca haveria nada entre eles, nem chegava a querer isso, mas aquela situação, ela sentada, com apenas alguns metros os separando e um vidro que parecia uma barreira frágil, que podia ser quebrada a qualquer momento, os dois se olhando através dela, essa situação a agradava. Se sentia alegre.

Ele chegou quando ela ainda estava de costas. Quando virou-se sem querer, o viu falando no celular. Parecia preocupado, desligou e o celular tocou novamente, dessa vez ele atravessou a rua para atender, como quem quisesse quase gritar com alguém e se afastasse pra que ninguém escutasse.

Ela o viu. Ele a viu. Nesse dia eles se viram, mas não se olharam ao mesmo tempo. Nada de sorrisos educados, nem alguma palavra trocada. Só sentiram a presença um do outro. E foi bom.

Larissa Fontes

sábado, 11 de outubro de 2008


Eu quero tanta coisa,
Quero tudo
E quero agora!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Conjugação da ausente

Tua graça caminha pela casa
Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes
A cabeça enterrada nos ombros qual escura
Rosa sem haste. És tão profundamente
Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento.
A cadeira é cadeira e o quadro é quadro
Porque te participam. Fora, o jardim
Modesto como tu, murcha em antúrios
A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te
Quer. És vegetal, amiga...
Amiga! direi baixo o teu nome
Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
Que te emoldura, fatigada, e ao
Corredor que pára
Para te andar, adunca, inutilmente
Rápida. Vazia a casa
Raios, no entanto, desse olhar sobejo
Oblíquos cristalizam tua ausência.
Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, te venero, te idolatro
Numa perplexidade de criança.

Vinícius de Moraes

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Isso


Vou pedir pra que você me olhe. Só mais um pouco, que eu entenda o que queres dizer ou que ao menos eu tenha idéia do que se passa na tua cabeça. É demais né? Não meço meus desejos, ou meço. Acho que até demais. Estou me contradizendo. Acontece.

As vezes eu sei o que vai acontecer. Até um gesto teu eu pressinto, pelo menos os gestos. Isso de tanto te olhar. É! E sei também o que vai acontecer quando surge um momento ruim. Sei que a gente vai gritar, que eu vou querer sair, que você vai machucar o meu braço tentando me segurar. E sei que depois de um tempo, ficamos calados. Os dois, juntos. Esperamos a raiva passar lado a lado e ela realmente vai embora. Sem que falemos nada.
E sem que falemos nada, vamos levando "isso", porque é "disso" que há de nascer tanta coisa ainda, que não vale a pena querer dar um nome.

Larissa Fontes

Se chamar


Se você me chamar, eu vou agora

vou com a roupa do corpo
com o cabelo dessarumado,
até com cara de sono.
Largo tudo
vou cantando alto pra quem quiser ouvir
vou dançando, rebolando,
vou correndo!

É só eu ouvir um "la..." da sua boca,
que eu me desespero,
eu grito, eu brigo!
Eu chego, pode até não ser hoje,
amanhã, talvez.
Mas espera, que eu vou..

Larissa Fontes

domingo, 5 de outubro de 2008

Reclamando território


Ele as vezes sumia. Quando isso acontecia, meio que se apagava nela. A fazia pensar que estava se apagando nela também e olhava pro chão desanimada. Não sabia onde ele estava, o que fazia. Sabia que ele também não sabia nada dela. Estranho essa distância da sintonia.
Então, ele reaparecia com a mesma normalidade que sumia. Chegava com aquelas palavras que davam aquela paz, e ela não sabia se ele tinha pensado nela esse tempo, mas ao ouvi-lo se calava. Como se uma luz se acendesse no momento exato.

Sentia esse sentimento dependente de algo que o alimentasse. Atenção, um carinho. Apesar da ligação, quando ela pensava nele, alguma coisa lá dentro estalava, como quem reclama um território.
O sentia distante... E pedia pra que ele não deixasse isso acontecer.

Larissa Fontes


Janta


http://br.youtube.com/watch?v=UmH5s4snQRQ&feature=related

Eu quis te conhecer/ mas tenho que aceitar/ caberá ao nosso amor/ o eterno ou o "não dá"/ pode ser cruel a eternidade/ e eu ando em frente por sentir vontade/ Eu quis te convencer/ mas chega de insistir/ caberá ao nosso amor/ o que há de vir/ Pode ser a eternidade/ mas caminho em frente pra sentir saudade...

Paper clips and crayons in my bed/ everybody thinks I'm sad/ I take my ride in melodies/ and bees and birds/ will gear my words/ will be both us and you and them together/ I can forget about myself trying to ve everybody else/ I feel allright that we can go away/ and please, my day/ I'll let you stay with me if you surrender...

Marcelo Camelo e Mallu Magalhães

"o eterno ou o 'não dá'... o que há de vir."
Tanto faz, desde que...

sábado, 4 de outubro de 2008

Você


Quero te querer sem querer que mude qualquer coisa
assim não seria mais você.
esse você.
Quero conhecer esse você inteirinho,
sem faltar nada.
Sei que tenho de esperar
esperar nem sei o que.
E esperarei com toda a calma que o tempo destinar
Pois o que há aqui dentro não é rebelde, nem ansioso
É paciênciente, ciente (!) e tranquilo.

Larissa Fontes

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Semisonho


Estava sentada, numa aula. E num momento de sono incontrolável, eu hoje fechei os olhos. Uma linha escura foi contornando o ar e tornou-se lentamente no seu contorno do seu rosto. Depois, foi como se estivesse saindo de uma penumbra e vindo em minha direçao. Seu rosto sorrindo pra mim. Abri os olhos assustada. Com um sorriso.


terça-feira, 30 de setembro de 2008

Ensaio


Visto as cores mais alegres,
pra que quando seu olhar bata em mim, sinta toda essa energia
Sei das histórias mais belas,
pra que quando repouse em meu colo, sinta toda a fantasia
Tenho toda a paz nas mãos,
pra que quando acaricie sua cabeça, sinta toda a tranquilidade
Vejo a emoção em tudo,
para que quando pudermos olhar juntos para a mesma direção, sinta o que há de belo
Escrevo palavras bobas e com significado escondido,
pra que quando leias, só você sinta o que te dedico
Recebo a luz que emana todos os astros,
pra que quando desças do teu céu, sinta toda essa claridade
Olho com o meu olhar mais puro,
pra que ele, quando seja seu, o faça sentir toda a sinceridade
Ando com passos calmos e silenciosos,
para que quando se aproxime, sinta toda a cautela...

Larissa Fontes

domingo, 28 de setembro de 2008

Tanto nós


O telefone tocou. Estava absorto em mais um momento comigo mesmo. Me ouvia, me explicava, embora não me compreendesse. Era você. Fazia tempo que não escutava a sua voz e não sei colocar em palavras o que senti quando me dei conta.
Hoje você me ligou. Me chamou no telefone e eu senti minhas pernas estremecerem. Depois de tanto tempo, ouvir sua voz de novo. E mesmo assim senti tudo voltar, todas as sensações, os sentimentos, os formigamentos e até aquele aperto no coração que eu sentia sempre a qualquer palavra sua. Eu sei do que vai acontecer quando eu chegar, sei das coisas que vamos fazer e no final sei da briga que vamos ter. Até posso ouvir o tom das nossas vozes subindo cada vez mais, a raiva se mostrando. Raiva com amor. A mistura mais comum nos relacionamentos. Ninguém deixa de amar na raiva. Mesmo quando as duas pessoas estão se odiando, se amam. Se amam nos olhos, nas atitudes contrárias ao desejo real e até no orgulho teimoso. E mesmo tendo essa consciência, tenho raiva de você, te odeio, mas te amo e por isso nesse momento essas coisas estão passando na minha cabeça enquanto dirijo em direção ao que foi a nossa casa.
Vou passando pelas ruas que a gente costumava percorrer quando batia aquela vontade de tomar um vinho e olhar o movimento das pessoas. Nos sentávamos sempre na mesma mesa daquele mesmo bar. A nossa mesa e o nosso bar. Agora ela tá vazia. Estou com vontade de me sentar lá e ficar lembrando da gente. Mas isso iria doer. Acho melhor continuar. Continuo e vou chegando no fim da rua. Lá tem o nosso cinema. Perceba que nada mudou. Só eu e você. O que não deveria ter mudado nunca, mudou.
Tenho vontade de fechar os olhos pra não ter que ver tanto nós em tudo.
Chego e vejo que você ainda não aprendeu a colocar o carro pela garagem do vizinho, ele continua estacionado torto. Sorrio baixinho. Encosto a cabeça na parede do elevador e fecho os olhos respirando fundo enquanto ele sobe. Tento ensaiar alguma frase pra descontrair, mas como não consigo, resolvo deixar no improviso mesmo. Costumo fazer isso quando não sei o que dizer. Vou no impulso. Quando vi, já foi.
E você abre a porta com aquele roupão que eu brincava dizendo que era sua tatuagem, mas era só uma brincadeira, porque eu acho que não existe uma roupa que lhe caia tão perfeito quanto esse roupão. É assim que eu te imagino, assim que eu te vejo nos meus pensamentos. Até sonhei uma vez. Nenhuma frase consegue sair da minha boca, então te puxo pra um abraço e não sei quanto tempo fico te sentindo tão perto.
Então logo depois, vem a primeira alfinetada. O primeiro descompasso. Que puxa a chuva de insultos e ofensas. Jogando a culpa um pro outro como se brincássemos de bola.
Estou vendo você na minha frente, tão alterada, as lágrimas caindo sem querer dos seus olhos, sei que tá doendo em você e tento te dizer que dói em mim também, mas você está surda, só sabe falar, falar, falar.
Corro pra você, te calo com um beijo e...

Acordo com o sol na minha cara, quando viro pro lado, você dormindo ao meu lado, toda linda. Ainda segura a minha mão.

Larissa Fontes

sábado, 27 de setembro de 2008

Conversando sozinha


Incrível como as coisas acontecem. Elas têm de acontecer mesmo, não adianta correr pra fugir, se esconder, ou fingir que não está vendo nada. Existe uma coisa que ronda todas as pessoas, que toma conta de tudo que acontece e sempre está a favor do bem. Essa coisa se chama destino. Estou tão numa vibe de destino, ultimamente essa palavra está sempre nos meus textos, mas não é por acaso. Acaso. Agora pensei nessa palavra. Eu acho que o acaso é fruto do destino. Pessoas não se encontram por acaso. Estão predestinadas a se encontrarem, apenas não sabem disso e não esperam, por isso quando acontece, chamam de acaso. É tudo lindo. No fim é tudo lindo mesmo.

As coisas que falamos quando não conseguimos segurar, a sensação depois que isso acontece. As lágrimas que descem sem querer e o pranto que corre logo em seguida. O como a raiva e os sentimentos ruins podem ir embora em apenas um olhar nos olhos, o como muda tudo. O simplesmente acontecer das coisas. O decorrer da vida, mesmo.
Queria falar do amor com mais facilidade, saber dar o nome certo a alguns sentimentos que nascem dentro de mim, mas ainda é difícil. O meu consolo pra isso é pensar que ainda tenho muito tempo pela frente pra descobrir mais dele, do amor. Tenho tempo para conhecer mais palavras, palavras desconhecidas que enfim sirvirão para o que eu quero nomear. Palavras bonitas e colocadas na frase certa.
Quero que as palavras explodam de mim, pra fora de mim. Quero que sejam ditas e sem medo de qualquer medo. Não quero mais medo na minha vida. Quero coragem! Quero escrever todos os dias, quero ter que escrever todos os dias. Quero que venham onde quer que eu esteja, que sejam escritas em qualquer papel, mesmo que perdido. Quero encontrar inspiração e emoção nas coisas mais simples e inesperadas.
Quero escrever coisas que as pessoas leiam e digam surpresas que eu adivinhei o que elas estão passando, que se identificam, que "ela escreve pra mim", como eu já tantas vezes disse ao ler Clarice. Quero escrever livros e mais livros, quero autografá-los, quero escrever pra mim e pras pessoas.


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Nada!


O que fazer quando queremos dizer que não queremos dizer nada? É isso que eu quero. Eu quero dizer que não quero dizer nada. Nada! Foi nisso que deu: nada! E por que essas palavras estão com essa mania de quase serem vomitadas? Parem! Agora!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

No último dedo da mão direita


Momentos de intenso mal estar. Uma certeza, uma dúvida e uma dose incalculável de insegurança. Chegou a doer fisicamente. O corpo inteiro se contraiu com a força de um sentimento ruim. Ansiedade. Vontade de enfrentar logo de frente, mas ao mesmo tempo querer adiar o máximo que puder, "não tô pronta ainda". Por mais que exista uma preparação psicológica, "ainda não tô pronta".
Não queria estar escrevendo essas coisas, mas elas estão saindo, mal conseguiram se segurar até eu pegar um papel. Tive que correr pra que elas não escapulissem pela boca. Ainda não quero. Não quero. Alguma coisa aqui dentro me faça parar.
Cheguei. Chegou a hora.
E foi como havia esperado todo o tempo antes. Digo pelo menos o que aconteceu no lado de dentro. O lado de dentro do de fora não posso contar, não sei. Treinei tanto. Mas... Nó na garganta, vontade de fazer uma contradição. Um orgulho a mostra. Talvez a insegurança de ter feito a coisa certa ou não. Não querer ver e procurar com o olhar a todo momento. Ainda o sentimento ruim. Por que ele não vai embora? Ainda bem que ninguém pôde perceber o terremoto aqui dentro.
Até que eu vi. Ainda estava alí. Vi aquela coisinha e sorri sem perceber. Quando me dei conta, fechei a cara novamente e tentei me convencer de que aquilo não tinha sido um sorriso.

Larissa Fontes

"Eu sei, jogos de amor são pra se jogar.. O jogo segue, nunca chega ao fim e recomeça a cada instante. Se quiser jogar, me liga. Me liga!" (Paralamas do sucesso)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Rascunhos


Por um abraço agora, o que eu não faria?

Eu pularia da cama no momento do 13º sono;
Eu leria e criaria todos os poemas do mundo;
Aprenderia a cantar só pra te fazer dormir;
Velaria e cuidaria do teu sono pra afastar os pesadelos;
Ficaria olhando pra baixo do 17º andar...
Por mais um abraço
que durasse pra sempre.

Pra te conhecer, te mostrar quem sou
Te dar meu coração pronto
Limpo de medos e inseguranças
Pronto pra entrega, pro amor real
Diferente de tudo que já provei
Amar sem pensar em troca
Te dar carinho e meu sorriso mais sincero.

Vamos ter a nossa casa
Vamos compor uma música nossa
que faça lágrimas brotarem
De alegria e de emoção incontrolável.
Vamos viver de amor
De poesia.
Vamos vestir tudo dela.
Musicar nossos sentimentos
E dar nome as sensações.

Não vamos ter segredos
Dar abertura um ao outro
Falar de medos e alegrias
Contar novidades e bobagens do dia-a-dia
Vamos rir juntos até a barriga doer.

Vamos esperar anciosamente que o outro chegue
Vamos nos abraçar todo dia
Nos beijar sem parar
Nos olharmos sem cansar.
Vamos cozinhar juntos!
Melhor, você cozinha, eu limpo a bagunça.

Vamos ser felizes,
Vamos viver o que temos de viver
No nosso momento
Momento que fará sua importância,
Que se fará eterno.

Larissa Fontes

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Me transforme em poesia


Chegou sem bater

fazendo uma baderna danada
e está fazendo daqui a sua morada.
Que tamanha luz tu emana,
me irradia, reflete um sentimento que adormecia
Que mãos capazes dar toda a segurança
em um simples segurar a outra.
Tua luz irradia a minha
e juntas podem formar uma que irradia dessa vez o mundo!
Me toma a vontade de merecer
cada pensamento e cada palavra tua
Vontade de você, mesmo.
Os braços da paz são teus
e em mim são a tradução dessa palavra.
Quero ainda estar aqui pra ver-te abrir o coração
para que eu entre com toda a cautela e serenidade
fazer dele um terreno fértil pra cada sentimento que desejo plantar em ti.
Quero que me transforme em poesia,
na tua poesia.
Chego a sentir medo
e não quero que esse medo acabe
quero só esse teu olhar
me dá o teu olhar, ele me basta.
Só um pouco mais?

Larissa Fontes


domingo, 21 de setembro de 2008

Fulgáz


Não queira dar passos maiores que as suas pernas, não queira. Ninguém teve ou tem culpa de nada, as coisas tomam proporções inesperadas e fogem do nosso controle. Não aguentei. Não sei lidar com surpresas. E a maior e mais nova foi ver que a coisa era fulgáz. Precisei testar isso, precisei saber o que estava acontecendo, me situar e o que descobri foi um poço de grandes promessas da boca pra fora. A gente tem mania de querer que tudo seja lindo e profundo. Diferente. Assim foi, desejo de dar o mundo de presente, o maior amor que existisse, até um fusca. Amor de cinema, pra sempre, novamente: fulgáz. Temos que aprender que cada amor, por menor que seja, tem sua beleza. Não precisamos enfeitá-lo. O amor por si só já enfeitado das mais lindas e coloridas flores. Enfeitado dos pensamentos mais encantados, das palavras mais frágeis.

Eu sabia que não tinha nada de diferente, via em você algo dessa vontade de enfeitar uma coisa exageradamente, via algo desse poço, mas deixei que ele ficasse mais fundo. Eu não podia ter nada de diferente. Não tenho.
Você não podia querer que eu entrasse no seu sonho e simplesmente começasse a fantasiar. Era demais, era pesado. As coisas poderiam ir acontecendo, mas havia uma pressa quase que desesperada do que eu não podia dar. Não tinha paz. Não pude acompanhá-lo, e acho que na verdade nunca pude e esse era o destino. Foi uma passagem sim, mas ninguém vai saber se era pra ser assim ou se algo fez com que fosse. Embora uma voz aqui dentro diga "você sabia, por isso não acreditava". E tinha razão em não acreditar.
Agora me ocorre uma brincadeira de amar. Uma necessidade de ter alguém pra dizer que ama, escrever uma carta por dia, dizer bobagenszinhas no telefone, falar mansinho. Pra provar pra si mesmo que pode amar de novo. Que ama bonito e muito. Querer gritar que está apaixonado. Esqueceu que isso tudo é uma vestimenta da paixão. Ela anda coladinha no amor, a bixa é traiçoeira, sabia? Devia saber disso. Prega cada peça na gente! E não sei se você caiu como um patinho nessa ou se estava fazendo o que você melhor sabe, atuar. Ah! E confirmei essa sua qualidade. Um ótimo ator. Só não é tão profissional, pois não precisou de palco nenhum pra interpretar essa farsa/tragédia romantica. Não se jogue assim num abismo, cara. Ou se jogue, não é? Afinal o que vale é se jogar, ter uma história pra contar, um "amor de cinema".
Vou ser platéia agora. Sentar e ver qual será seu próximo espetáculo. Torço ainda para que seja um sucesso e que arrance aplausos de alguém que entre no seu jogo, na sua dança. Que dance conforme a tua música.
Preciso agora me segurar. E segurar principalmente esse sentimento ruim que se infiltrou dentro do meu coração pra que consiga levar em frente os meus planos de ser quem eu sou e ser mais! É difícil olhar nos teus olhos agora, porque eu jurei ter visto alguma verdade neles, mas dizem que os bons atores jogam a verdade nos olhos. Parabéns!
Abra agora os teus braços e os teus olhos pro que há ainda de vir.
São só palavras..
Good luck!

Larissa Fontes

sábado, 20 de setembro de 2008

Mais uma bobagem


Tudo conspirava

o céu cobrindo o mar com seu manto negro
tornando-se um só
o céu, o mar
ela e ele
não sabiam se o céu tinha ondas ou mar estrelas
tudo estava revirado
até a lua estava enormemente linda de tão feliz
e o sol na verdade, não tinha ido embora,
estava mais perto do que se possa imaginar
e não queimava.
O frio não alcançava aquele abraço

nem nada de ruim que houvesse no mundo
pois eles se encontraram e estavam juntos
os olhos se batiam tímidos e meio nervosos
numa surpresa irremediavelmente especial
onde dois caminhos que já haviam se encontrado
fizeram agora os corpos se tocarem em carinho puro
com um mar estrelado e um céu ondulado de testemunhas
dos poucos momentos a sós,
de algo inexplicável que nasceu sem propósito
e que não se sabe que rumo tomará
embora seja fato o bem que faz.
O cheiro, o gosto, a luz e o sorriso ficam guardados,
prometendo que todo encontro seja mágico
estrelado, ondulado, ensolarado...

Larissa Fontes

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A outra voz


"De qualquer forma, sabia - de onde quer que viesse o aviso. Sabia tanto que, igual às outras vezes, colocou a mão sobre o telefone um pouco antes que tocasse. E antes ainda sequer de começar a esperar, porque eram cinco e quinze, ele estremeceu ao ouvir o toque, quase sorrindo para dentro, para si, porque de alguma forma era como se o toque fosse produzido apenas pela vibração de seus dedos suspensos sobre o aparelho. Tivesse o poder de, à distância, magnetizar a mão de outra pessoa, induzindo o dedo indicador naquela mão daquela outra pessoa a discar seus seis ou sete números para chamá-lo.Mas já não tinha poder algum, se é que tivera um dia. E achava que não, além desse de agora: manter as pontes pelo tempo necessário e impreciso. Só atendeu depois do telefone tocar três vezes.

Mas não, não diria nada. Não se diz mais uma palavra quando, de muitas formas nunca claras o suficiente para que os outros entendam, tudo já foi dito.

- Até quando for preciso. Estarei aqui.
- Talvez dependa de mim.
- Tudo tem seu tempo. Há o tempo deles, também. Eu sou a ponte para você, você é a ponte para eles.
- Tenho medo que você falhe. Porque, se você falhar, eu falho também. E eu não posso.
- Eu não vou falhar. Não porque não posso, mas porque não quero.
- É como um pacto?
- Se você quiser.

Um dia seria para sempre: e eu só tenho esse centro talvez escuro de mim, onde me agarro.

Até um dia qualquer de sol, se você me esperar lá fora.

De repente, agora, como antes, pressentindo o toque do telefone, alguma coisa começava a contorcer-se por dentro dele, no aviso da partida. Quis retê-la ainda, à outra voz, com alguma história.

Passou os dedos devagar sobre o telefone mudo. Estava frio. Já não havia sonoridades vivas fugindo pelos furinhos do fone para aquecer e colorir o quarto. Todo o resto ia-se embora com a outra voz, o mundo inteiro que habitava dentro dele."


Caio F. Abreu

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Uma viagem


O bem é tanto, que a ansia é de até um simples pensamento. A hora em que se pode descansar a mente do que estava fazendo para que venham aqueles pensamentos, aquelas situações imaginadas, imagens, trejeitos. Fechar os olhos e perceber que poderia ficar alí assim, de olhos fechados, só com seus pensamentos. Mas de ao mesmo tempo precisar de mais. Querer que seu pensamento interfira no do outro. Transmissão, sabe? Um desejo incontrolável de estar perto, de estar apenas vendo-o. Um latejo que chegue a ser físico, que faça seu corpo se contrair. Uma imaginação desvairada. Um querer fazer alguma coisa e não poder.

Estranho existir um mundo enquanto você está se abstraindo. Estranho saber que o alvo de seu pensamento latejante vive, está vivendo agora. Está sentindo agora. Então se você pensar com uma força de dentro e de fora, se faz sentir. Sentir-te.
Os instantes rastejam, diferente do de estar perto, onde esses escorrem pelos dedos, correm, voam, simplesmente desaparecem, desesperando. Vontade de segurá-los, mas são mais rápidos e não se deixam agarrar. Te levam embora.

Larissa Fontes

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Para uma borboleta


Vou contar a história de uma largatinha. Apesar de pequenina, sempre foi serelepe. Já imaginaram uma largatinha serelepe? Pois era. Era colorida, tinha quase todas as cores do arco-íris e encantava a todos quando passava em seu habitat. Se apaixonou por um pássaro branco. Era um pássaro raro, que lhe cantava as canções mais belas e lhe prometia o céu e a terra. Aconteceu de um tempo em que esse pássaro teve que fazer sua viagem ao um dos extremos do mundo com seu bando, prometendo seu amor mais lindo e puro. A largata começou a vagar triste, dizem até que perdeu um pouco do brilho de sua cor. Enquanto dormia, sentiu alguns fios a cobrindo, estranhou, ficou com medo e chegou a pensar que era a morte a abraçando. Dormiu por um tempo que nem ela soube o quanto. Quando acordou, viu que estava diferente. Coisas estranhas tinham surgido, as cores que antes se espalhavam por seu corpo fininho e reto, agora faziam cores em forma de coração. Pensou que não poderia mais andar, estaria privada de tudo que sempre esteve acostumada. Estava deformada. Não entendia a beleza e nem o porquê daquelas coisas em seu corpo. As outras lagartas a julgavam, a olhavam feio. Isso a fazia mais triste do que se olhar no espelho e não saber o que acontecia com seu corpinho. E pra completar, não tinha por perto o amor e o canto de seu pássaro branco. Ela tentava voltar a sonhar, mas aquilo estava alí e ela não entendia. Chorou um dia inteiro, sem parar.
Um dia, percebeu que aquelas coisas estranhas eram asas. E podia voar. Podia bater aquelas metades de coração que elas a levariam para qualquer lugar que quisesse. As asinhas, que antes pareciam a atrapalhar e privar de toda uma vida, era parte de sua natureza. Era o destino dela. E que lindo destino.
O pássaro não voltou. Ela percebeu que não precisava mais dele, pois suas asas a levariam mais alto do que aquele céu prometido. Aprendeu que nem sempre o canto mais doce é o mais puro e verdadeiro. Hoje, seu maior orgulho e sua maior alegria são suas asas. Elas lhe devolveram sua alegria de viver e seu sorriso. Tão coloridas e bonitas! Seu voar é como um verdadeiro bailar no ar.
Ainda parece frágil, embora tenha-se feito forte feito uma verdadeira ROCHA.

Ah, e seu fraco ainda são os passarinhos. Haha!


P.S.: Com todo o amor!

Larissa Fontes